Mensagem do dia:

Mas se me pedissem para apontar um pré-requisito importante para todos os guerreiros de sucesso, responderia que é a sua capacidade extraordinária para lidar com o estresse simultâneo e acumulado.


sábado, 17 de agosto de 2013

“É leviana e irresponsável a divulgação de uma única linha de investigação, sabendo-se que havia também uma segunda”

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Desaparecido desde o último dia 14 de julho, Amarildo Dias de Souza, 47 anos, e sua mulher, Elisabete Gomes da Silva, faziam favores para traficantes da Favela da Rocinha, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, em troca de cocaína. A afirmação consta em termo de declarações prestadas pelo policial que participou de “ação controlada” (chamado por alguns de “agente infiltrado”) registrado sob o número 015-01318/2013 na 15ª DP (Gávea). Com autorização judicial, o policial conviveu durante quatro meses com integrantes da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) que controlam o tráfico de drogas no local como se fosse comparsa deles. No mesmo documento ele declarou que já havia presenciado Elisabete cheirando pó na frente dele.
O trabalho do policial, somado a interceptações de ligações telefônicas e de mensagens de texto e gravações de áudio e vídeo fizeram parte do inquérito presidido pelo delegado Ruchester Marreiros Barbosa, então adjunto da distrital, que investigou a quadrilha que atua na localidade e identificou dezenas de criminosos da Favela da Rocinha – alguns envolvidos diretamente com a venda de drogas, outros com associação para fins de tráfico, formação de quadrilha ou concurso material.
Com 61 indiciados, o inquérito foi finalizado com 9 volumes (contendo em média 220 páginas cada um) e aproximadamente mil horas de conversações telefônicas e mensagens de texto interceptadas, o que resultou em uma grande incursão, batizada como “Paz Armada”, que foi realizada no dia 13 de julho – na véspera do desaparecimento – para cumprimento de 58 mandados de prisão.
No último dia 9 de agosto, a 35ª Vara Criminal da Capital reconheceu indícios e provas suficientes para decretar a prisão preventiva de 16 dos acusados: John Wallace da Silva Viana, o Jhonny; Luiz Carlos Jesus da Silva, o Djalma; Fernando de Souza Lima, o Nando PT; Davi Gomes de Oliveira, o Magrinho; Rogério Avelino da Silva, o RG 157 ou Rogério 57; Thiago Silva Mendes Neres, o Catatau; Wadson da Silva Veloso, o Cachorrão; Douglas da Silva, o Pirikito; Luís Roberto Marques de Oliveira, o Tatá; Vinícius Gomes da Silva, o Titica; Washington de Jesus Andrade Paz, o W; Jackson Nascimento Gomes da Silva, o 12; Juliano Ferreira de Medeiros, o Espinha; Bruno Fernandes Pinheiro, o Bruninho; Victor Hugo da Silva, o Gabiru; e Ricardo Santos Rodrigues da Silva, o Ricardinho.
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“Minha profissão é pautada na técnica e no aprimoramento constantes, não em política partidária. Realizei uma investigação denominada de “Paz Armada” e não o desaparecimento de Amarildo, vulgo “Boi”, utilizando-me das técnicas dispostas na legislação, porém quase nunca utilizadas pela Polícia por falta de recursos humanos e tecnológicos”, revelou, em nota, o delegado Ruchester Marreiros.
“Diversas mentiras foram lançadas na imprensa e diversas pessoas acompanharam essas falsas manifestações, de que o indiciamento de uma manifestante que procurava seu esposo desaparecido seria uma “tentativa desesperada de se criminalizar a pobreza””, disse Ruchester, ressaltando que a investigação era sigilosa e nada poderia ser divulgado antes do sigilo ser retirado pela Justiça.
“A investigação deste desaparecimento não foi realizada por mim. No entanto, conversas telefônicas e de texto foram interceptadas na investigação da “Paz Armada”, esta sim, presidida por mim, com conteúdos oriundos do tráfico de drogas, conexos ao desaparecimento e que foram repassadas ao responsável pela investigação do desaparecimento, que se negou a considerá-las”, destacou Ruchester, enfatizando que havia uma linha de investigação, desde seu início, a respeito do tráfico ter desaparecido com aquela pessoa e não somente a suspeita relativa aos policiais militares lotados na Unidade Polícia Pacificadora (UPP).
“É leviana e irresponsável a divulgação de uma única linha de investigação, sabendo-se que havia também uma segunda”, declarou.
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“Não se legitima a morte ou se criminaliza vítimas, mas uma relação estreita dessas pessoas com o tráfico sugere, ao menos, cautela. Confirmação do que foi identificado, antes de se concluir uma outra linha de investigação mais ou menos plausível. É o que se espera do profissional responsável e sério. Não foi um trecho somente de conversações telefônicas que me permitiram concluir sobre o indiciamento de 61 pessoas, nem de uma somente, mas todo o conjunto de elementos de nove volumes de inquérito “, ressaltou, comentando declaração do titular da 15ª DP, delegado Orlando Zaccone, que considerou o fato de Amarildo morar em uma casa simples como prova de sua inocência.
“Dos 61 qualificados, todos são pobres. Se fossem ricos estariam traficando na Rocinha? Só rindo dos demagogos em discursos que vitimizam criminosos. Não há riqueza no tráfico, salvo raríssimas exceções e somente dos cabeças. Investigar o tráfico de drogas é se deparar com esta triste realidade, e o grupo investigado era perigoso não porque vendiam drogas, mas porque portavam armas de fogo de grosso calibre e atiravam em pessoas como atiraram em um policial militar e atiraram em um turista alemão”, enfatizou Ruchester, revelando que os criminosos que trocaram tiros no Hotel Intercontinental – em agosto de 2010 – e que foram soltos pela Justiça – em setembro de 2012 – estão entre os identificados como integrantes da quadrilha chefiada pelo traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, 37 – preso desde novembro de 2011.
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“A morte em nenhum momento se justifica, seja ela causada por quem quer que seja, pelo tráfico ou pela Polícia. Mas quando a suspeita é pela Polícia os oportunistas de plantão encontram prato cheio para suas histerias coletivas e shows de retóricas pirotécnicas. Justiça seja feita e que o responsável seja punido. Não existem vítimas criminalizadas nesta história, mas sim criminosos vitimizados por quem não quer trabalhar de forma séria e se envereda no seio podre de políticos partidários de pura demagogia”, desabafou.
“Causa-me espécie, pessoas intelectualmente conscientes disso saírem em defesa daquilo que não conhecem e fazerem aquilo que elas mesmas repudiam, que é a repetição daquilo que a mídia propala às custas de se denegrir o trabalho alheio em prol de seus interesses corporativos e capitalistas de lucro, e a informação verdadeira relegada sempre a segundo ou terceiros planos. Só posso lamentar. A verdade já está vindo a tona e nó não enxerga quem não quer”, finalizou Ruchester, que foi transferido da delegacia da Gávea.
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio (Sindelpol-RJ) emitiu nota de repúdio em favor de Ruchester. No documento, o presidente do Sindepol, Leonardo Affonso Dantas dos Santos, enfatiza que o órgão repudia veementemente as violações das prerrogativas do delegado.
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“Os delegados de Polícia, com a edição da Lei nº 12.830/13, não podem ser removidos sem a devida motivação, assim como os inquéritos policiais por eles presididos não podem ser avocados por outro delegado de Polícia sem a devida fundamentação, sob pena de se permitir que interesses políticos ou econômicos interfiram na atividade investigativa da autoridade policial”, ressaltou na nota, destacando que Ruchester não poderia ser afastado de suas atividades investigativas.
“Tampouco poderia ser desconsiderado o relatório final. O delegado de Polícia possui absoluta independência nas suas manifestações jurídicas, devendo as mesmas ser fundamentadas, razão pela qual é flagrantemente ilegal a avocação de inquérito policial de um delegado pelo outro por razões de discordância da tese jurídica. A autoridade policial que preside a investigação tem a prerrogativa de realizar seu relatório final e nenhum outro delegado, por mais que discorde da tese jurídica por ele assumida, sendo titular ou não de uma unidade policial, não possui autorização legal para substituir o relatório do outro”, declarou Leonardo.
“Lamentamos a forma com vem sendo tratado o episódio pela Polícia Cívil, cuja postura deveria ser pautada a sustentar a inviolabilidade da autonomia e independência funcional dos Delegados de Polícia, presidentes das investigações criminais”, finalizou o presidente do Sindelpol, afirmando que o órgão entrará com um mandado de segurança na Justiça denunciando a transferência – popularmente conhecida como “bico” – que contraria a Lei nº 12.830/13.
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Câmera já estava quebrada há seis meses
A câmera existente em frente à sede da Unidade de Polícia Pacificadora da Favela da Rocinha foi quebrada seis meses antes do desaparecimento de Amarildo – visto pela última vez saindo da UPP, no último dia 14 de julho. O dano foi praticado por um menor de 15 anos que disse ter sido ameaçado pelo tráfico. Em depoimento prestado na 15ª DP, o adolescente garantiu que danificou o equipamento após ter sido ameaçado de morte pelos traficantes conhecidos como Jhonny e Boi. O fato ocorreu em 27 de janeiro deste ano e o menor foi apreendido e conduzido à delegacia no dia 30. A ocorrência foi registrada sob o número 015-00399/2013.
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Filhos já tinham anotações criminais
No dia 16 de março, um dos filhos de Amarildo com Elizabete foi apreendido em flagrante. Nascido em 25 de junho de 1995, na época ainda era menor de idade. Ele estava em um grupo de jovens que correram ao notar a aproximação de uma viatura. A maioria conseguiu fugir, mas ele e outros três jovens ficaram para trás e foram alcançados. Com o quarteto os PMs encontraram uma pistola Glock calibre 45, sete carregadores, munições, quatro artefatos explosivos e farto material para endolação, além de 88 sacolés de cocaína, um comprimido de ecstasy, dois aparelhos de telefone celular e R$ 327 em espécie – o dinheiro, em notas trocadas, seria proveniente da venda de drogas. O registro foi feito na 14ª DP (Leblon) sob o número 014-02219/2013. Em outubro do ano passado, outro filho de Elizabeth já havia sido preso. Aos 19 anos, Emerson Gomes da Silva foi acusado de associação para fins de tráfico ao gritar para os criminosos que policiais estavam realizando operação e se aproximando da boca-de-fumo na localidade conhecida como “Roupa Suja”. Ele foi conduzido à 15ª DP e contou à Polícia, em depoimento, que trabalhava para os traficantes. A ocorrência foi registrada sob o número 015-03943/2012-01.
 
Fonte: Site Roberta Trindade
 

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